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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Os bons espíritas

Os bons espíritas





A o analisarmos o item 4, do capítulo XVII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, com o mesmo título do presente artigo, verificamos a grandeza da lição oferecida por Allan Kardec, definindo, com perceptibilidade, as características do autêntico espírita, que se torna legítimo cristão, coerente com os ensinos evangélico-doutrinários que adquire.

O texto, de notável luminosida de, levanos a refletir sobre a im portância de promover mudança de rumo em nossa existência, prontos para atender ao chama mento da mensagem libertadora, como oportunidade única de al cançarmos objetivos retificadores. Ao conquistarmos as efetivas con dições espirituais para evolução de nós mesmos, somos atingidos no coração e reconhecidos como verdadeiros espíritas pela nossa transformação moral e pelos esforços que empregamos para domar nossas inclinações infelizes.

Desventuradamente, no entanto, nem sempre estamos dispostos a seguir certas lições que o Espiritismo nos proporciona; somos es píritas que, sem entender a es sência dos ensinamentos doutrinários, acreditamos poder continuar na ilusão de júbilos engano sos e nos excessos das satisfações pessoais buscadas com ambição desmedida. Ao comentar o problema, em O Livro dos Médiuns, o Codificador, com propriedade e sabedoria, qualifica de espíritas imperfeitos:

Os que no Espiritismo veem mais do que fatos; compreen demlhe a parte filosófica; ad miram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignifi cante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. [...]

Kardec chegou a essa conclusão após minuciosos estudos do perfil dos inúmeros adeptos que se li garam à Doutrina, evidenciando que, essencialmente, “os que não se contentam com admirar a mo ral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências” e que “[...] tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso”, são os espíritas cristãos, aqueles que real mente compreendem a necessida de de cumprir com disciplina e nobreza os princípios da Consola dora Revelação.

Para efeito das reflexões que o tema possa suscitar, é importante encaminhar essas ideias para o trabalho que executamos na seara espírita, onde é preciso cultivar certa austeridade evangélica sem olvidar a humildade ativa. Nas ideias expostas pelo escritor espírita Indalício Mendes (1901 1988), encontramse significa tivas contribuições sobre a questão, ao analisar os antagonismos existentes entre irmãos de um mesmo credo:

O Espiritismo é e tem de ser cultivado pela humildade labo riosa. Sem humildade não há es pírito evangélico nem há soli dez doutrinária. Devemos insis tir em que a Doutrina de Kardec seja a pedra de toque da forma ção moral de todos aqueles que ingressam no Espiritismo e nele permanecem. Não podemos ter a veleidade de aspirar posições de relevo, muito menos de ad quirir supremacia nisto ou na quilo.Nosso dever, perante Jesus e perante o Espiritismo, é ser humildes de coração, absoluta mente fiéis às determinações doutrinárias e ao Evangelho se gundo o Espiritismo.

É indispensável pesar as conse quências dos nossos atos e adqui rir postura realmente cristã. En ganamse aqueles que acham que as realizações espíritas existem pa ra disputar lugar nos labirintos do poder religioso. Cumprenos, an tes, trabalhar no bem e exemplifi car, cuidando para que tenhamos a capacidade de cultivar genuínos sentimentos de amor e solidariedade para com os companheiros de jornada. A sabedoria consiste em nos aproximarmos cada vez mais uns dos outros, efetuando, em nossas instituições, ações con juntas que favoreçam a missão do Consolador Prometido em prol da evangelização da coletividade terrestre.

A valiosa mensagem dada pelo benemerente Espírito Bezerra de Menezes enfatiza o extraordinário papel do Espiritismo no mundo e exalta a disposição de Kardec, que “[...] experimentou [...] as incom preensões, fora e dentro dos ar raiais do Movimento Espírita [mas], teve a coragem de não desaminar; teve o valor moral de não arreme ter contra; soube expor a Doutrina com elevação,mas viveua cristãmente, santamente,dando nos o legado incorruptível que devemos preservar, para passar à posteridade”. Exemplos históricos e da atualidade mostram os gran des erros cometidos em no me do Cristianismo, pois, “infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação”. Sabedor das dificuldades encontradas junto aos admiradores espíritas de sua época, o insigne Kardec, ao elaborar o capítulo I de A Gênese, que tem como título “Caráter da Revela ção Espírita”, res salta, em nota ao item:

Diante de declarações tão níti das e tão categóricas, quais as que se contêm neste capítulo, caem por terra todas as alega ções de tendências ao absolutis mo e à autocracia dos princí pios, bem como todas as falsas assimilações que algumas pes soas prevenidas ou mal infor madas emprestam à doutrina. Não são novas, aliás, estas de clarações; temolas repetido mui tíssimas vezes nos nossos escri tos, para que nenhuma dúvida persista a tal respeito. Elas, ao demais, assinalam o verdadeiro papel que nos cabe, único que ambicionamos: o de mero trabalhador. (Grifo nosso.)

Essa advertência nos alerta para as inclinações que surgem do passado longínquo, tornando nos, vez ou outra, personalistas e ávidos por posições transitórias de destaque, nas instituições es píritas em que atuamos. Por que pretensões individuais se o campo edificante a semear desdobrase para todos? O educador espiritual Emmanuel afirma que:

O discípulo não pode ignorar que a permanência na Terra de corre da necessidade de traba lho proveitoso e não do uso de vantagens efêmeras que, em muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir. [...]

Onde permanece a atração do interesse pessoal, não é possível o cultivo dos sentimentos de justiça, amor e caridade, expressos nas leis morais. A orientação dada pelos Espíritos reveladores contém pre ciosos esclarecimentos sobre co mo devemos aproveitar os ensinos espíritas para que se transformem em abençoadas regras de viver:

Toda virtude tem o seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistên cia voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimi dade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pe lo bem do próximo, sem pensa mento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinte ressada caridade. 10 (Grifo nosso.)

Outro ponto a destacar é que o espírita, ciente de sua respon sabilidade, se preocupa com a disciplina, com o tempo e passa a ter mais ampla noção do dever, que lhe exige a realização de ações irrepreensivelmente executadas. O Espírito Emmanuel avivanos para um problema a enfrentar: aquele que assim age, em exatos momentos,

[...] supõese com mais vasta provisão de direitos. E, por ve zes, leva mais longe que o ne cessário a faculdade de preser válos e defendêlos, iniciando as primeiras formações de iras cibilidade, através da superesti mação do próprio valor. Insta lado o sentimento de autoim portância, a criatura abraça fa cilmente melindres e mágoas, diante de lutas naturais que considera por incompreensões e ofensas alheias. 11

Essa característica comporta mental procura solidificar e de clarar a sua individualidade, pre judicando, sensivelmente, aqueles que assim agem, colocandoos em posição crítica perante os demais companheiros, que passam a jul gálos intolerantes e excessivamen te autoritários.A aceitação de pen samentos opostos aos nossos nos leva ao consenso. Essa preocupa ção, inspirada pela bondade, sabe rá olhar com equilíbrio para o proceder alheio.

Entretanto, “se a nossa cons ciência jaz tranquila [...] no apro veitamento das oportunidades que o Senhor nos concedeu, es tejamos serenos na dificuldade e operosos na prática do bem, à frente de quaisquer circunstâncias”, 11 esforçandonos para sermos bons espíritas.

Clara Lila Gonzales de Araújo


Referências

1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. (bolso). 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. 4.

2  p. 295.

3  O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 1, cap. 3, it. 28, subit. 2.

4  subit. 3.

5 MENDES, Indalício. Rumos doutrinários. 3. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Conduta espírita, it. Intelectualismo pernicioso, p. 47.

6 SOUZA, Juvanir Borges de (Coordenador). Bezerra de Menezes: ontem e hoje. 41. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 3. cap. 34, p. 232.

7 KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 52. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 1, it. 8.

8 It. 55, nota de Kardec, n. 11.

9 XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 103, p. 222.

10 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. rad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 893.

11 XAVIER, Francisco C. Estude e viva. PeloEspírito Emmanuel. 13. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 14,



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